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The Idol S01E01 – Crítica: Uma genial viagem em forma de thriller erótico sobre o podre da indústria da música

The Idol - Crítica - NERDIZMO 06

The Idol é a nova série da HBO criada por Sam Levinson, que escreveu e criou Euphoria, uma das produções mais impactantes e visualmente interessantes da HBO.

O seriado recebeu uma enxurrada de críticas negativas da mídia especializada, e acabou até ficando com uma média bem baixa no IMDB, e com apenas 25% de aprovação no Rotten Tomatoes.

Nós assistimos, e na contramão da maioria, consideramos este seriado sensacional e impressionante.

A sensação é que grande parte das pessoas simplesmente não entenderam qual é o lance da série. E vamos contar exatamente porque a gente curtiu.

Os principais motivos porque The Idol merece destaque

Vamos discorrer um pouco sobre alguns pontos que chamaram nossa atenção, e porque vale a pena conferir o seriado.

1 – É pura genialidade em um modelo de crítica erótica em um thriller

Esta produção é uma crítica direta a indústria da música nos moldes atuais. Basicamente uma voadora com os dois pés no peito. Jocelyn, a protagonista, é uma garota completamente ferrada da cabeça que sofre nessa indústria. Uma cantora e dançarina pop, que fez um estrondoso sucesso e hoje precisa fazer malabares para não ter um surto psicótico e continuar a agradar os tubarões da música, acionistas produtores, agentes.

Isso gera nela um stress absurdo, insegurança, e ela começa a questionar tudo a sua volta, inclusive o seu próprio trabalho e ela mesma. E qual a relevância de tudo isso. Neste meio tempo, há um clima de suspense e várias cenas eróticas. Inclusive com uma referência clássica, quando ela assiste um trecho de “Instinto Selvagem (1992)”, o “pai” das narrativas eróticas.

O foco, no entanto, está nos jogos psicológicos que essa indústria traz, e como pode ser nociva tanto para os artistas quanto para o público em geral.

2 – Lilly Rose Depp está impressionante

Com sua interpretação de Jocelyn, logo na primeira cena a gente tem um vislumbre do potencial da atriz, ao mostrar diversos tipos de emoções diferentes em uma sessão de fotografias.

Ao longo do resto do capítulo, a mulher simplesmente dá um show de atuação. Está simplesmente perfeito. Jocelyn se mostra uma menina quebrada e solitária, em busca de atenção e de algum sentido na vida. Ela se mostra muito vulnerável em alguns momentos, e em outros parece que tem total domínio.

3 – Tem muito espaço para explorar múltiplas facetas da indústria

Quem acompanhou Euphoria sabe que a capacidade de Sam Levinson em explorar temas pútridos da humanidade é especial. Com uma mescla de visual impressionante e uma narrativa primorosa, a gente passa por uma montanha russa de emoções em suas produções.

Isso nos leva a crer que The Idol tem uma capacidade altíssima de oferecer muito conteúdo com profundidade sobre o tema e as facetas da indústria do entretenimento, da música, dos famosos.

O primeiro episódio deu só uma amostra do que está por vir. E a possibilidade de termos muitas boas ramificações e arcos dos personagens que são interessantes estão ali. E aguardamos ansiosamente por isso.

4 – O clima é de um sonho deturpado e um tanto depravado

Todo o clima da série é como se fosse de um sonho (ou pesadelo, dependendo da ocasião) com muitos elementos depravados e eróticos. Mas, diferente do que muitos pregam, não é exagerado. E sim representa a vida real de uma famosa artista pop que sofre para ficar de pé e apenas seguir com a vida nessa indústria.

A trilha sonora e o visual são primorosos. Fotografia perfeita e luzes que formam cenas simplesmente de cair o queixo. Parece que estamos em uma espécie de mundo alternativo, em que pisamos nas nuvens e acompanhamos uma jornada bem perturbadora, e ao mesmo tempo cativante.

Certamente a narrativa nos prende para querer saber o que acontecerá com aquela personagem, ou o que é possível de acontecer com uma mente tão atacada por todos os lados como a dela.

5 – O retrato de uma indústria podre

Em meio a cenas de obscuridade, suspense e até um toque de horror, The Idol mescla uma série de gêneros e faz uma crítica sensacional a indústria da música e dos famosos.

Como fica a cabeça de alguém que ficou extremamente famoso vendendo o seu corpo? Como é lidar com a fama, com abutres por todos os lados querendo uma casquinha? Como é ser um produto, e não uma pessoa?

Jocelyn é vista apenas como um produto por todos. E ela luta com ela mesma para se ver como humana. E busca uma redenção de alguma forma.

Enquanto isso, é inevitável assistirmos ali, nela, traços que vimos em outras pessoas, como Britney Spears, e inclusive mais recentes, como a própria Anitta.

São pessoas que simplesmente vendem o sexo. E a “baita artista” que ela representa, segundo os chefões da indústria, está na capacidade de ela vender o seu sexo, e não no talento musical, ou como cantora.

Sem a sua sensualidade, seu sex appeal, sem o seu corpo escultural e cheio de curvas, ela seria algo? Britney seria algo? Anitta seria algo? A resposta infelizmente é que não. E que basicamente o sexo vende. E ao mesmo tempo em que o autor insere esses elementos em uma série para criticar justamente isso, a gente fica hipnotizado em um espiral de loucura.

Conclusão: as pessoas deviam se chocar com a vida real, não com uma série de ficção

Realmente, não entendi porque tanta gente não aprovou, odiou ou deu notas ruins para esta produção. Ela mostra exatamente como muitas estrelas precisam passar por momentos horrorosos, ou como precisam lutar para sobreviver nessa indústria. Especialmente, como isso afeta diretamente a saúde mental e personalidade dessas pessoas.

Basicamente, é sobre exploração. Sobre propriedade. Sobre como transformar pessoas (no caso ali, mulheres) em produtos. E como esses produtos são usados para gerar dinheiro e para vender o sexo. É a glorificação da prostituição explicada, sem muitas delongas.

É impressionante como as pessoas podem se sentir ultrajadas por histórias que contam esses bastidores. E que inserem pequenas porções de sexo nisso.

Não é um seriado de ficção que deve nos chocar. Mas sim a vida real.

Ver como adolescentes dançam seminuas em todas as redes sociais, a todo momento. Em como mulheres vendem diariamente seus corpos na Internet. E como a prostituição ganhou proporções absurdamente maiores na atualidade, com o TikTok, Instagram, Facebook, YouTube e a cultura de influenciadores digitais.

Isso sim deve chocar, e deve dar medo.

O que The Idol faz, apenas, é escancarar como essa cultura adentra em nossas vidas. E como começa a fazer parte de toda a nossa sociedade.

É justamente por causa das pessoas retratadas ali, que a nossa cultura é assim. Baseada em sexo, exploração, abuso e poder. Em grande parte, administrada por homens. Mas que também tem espaço para mulheres que ajudam a perpetuar tudo isso.

Tudo em nome do glamour.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Fernando Henrique Vaz
Fernando Henrique Vaz
10 meses atrás

Talvez, seja o primeiro texto que leio no UOL, que tenha alguma sensatez

Fernando Henrique Vaz
Fernando Henrique Vaz
10 meses atrás

*no UAI, em muitos anos