Pelo Malo | Crítica - Nerdizmo
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Pelo Malo | Crítica

Filme mostra homossexualidade sobre os olhos de um menino de 9 anos

Pelo Malo - Crítica

Pelo malo, obra venezuelana com roteiro e direção de Mariana Rondón, joga nova luz sobre uma velha discussão: o homossexualidade. Um dos grandes acertos da diretora está em abordar a intolerância acerca desta temática pelo viés de um menino de 9 anos.

Abordar um tema tão delicado e controverso, tendo como protagonista uma criança, é um desafio extra para a obra, mas também um mote que a faz trilhar caminhos que a distanciam dos clichês da maioria dos filmes e documentários do gênero.

Isso é o que fazem os grandes artistas (como se provou Rondón): não apenas encaram desafios, como o fazem de modo impraticável para o artista medíocre. Desta forma, não se vê aqui as cenas de violência gratuita contra homossexuais que obras desse tipo costumam retratar, a troco, muitas vezes, de cenas chocantes totalmente desnecessárias. Sabe-se que essa violência existe, mas há muito mais a ser dito sobre preconceito, e Pelo Malo tem esse algo a mais.

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Júnior (Samuel Lange Zambrano) é um pária em muitos sentidos: negro, pobre, o pai é falecido e a mãe é ausente. Para completar esse quadro, ele tem gostos e trejeitos que impedem seu entrosamento com outros garotos, de modo que sua única amizade é uma menina vizinha com sobrepeso, motivo pelo qual também não é muito popular no condomínio em que vivem.

Marta (Samantha Castillo), a mãe de Júnior, é uma mulher jovem, mãe solteira, com um bebê recém-nascido e que tem franca dificuldade em lidar com a personalidade do filho mais velho. Júnior está muito distante de qualquer estereótipo de filho ideal ansiado por pais tradicionais, mesmo neste momento do século XXI. O roteiro é corajoso ao mostrar que, à despeito do quanto se pregue a aceitação aos homossexuais, temos aqui um garoto que, por mais que seja solícito e carinhoso, não consegue o afeto da própria mãe.

Em outro ponto sagaz do premiado roteiro, nota-se que Marta trabalha como guarda noturna, emprego tipicamente masculino, e mesmo que surjam outras oportunidades de trabalho, quando se encontra desempregada, ela insiste em continuar trabalhando no ramo da segurança. A área de atuação da mãe faz o contraponto aos gostos do filho.

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Nota-se o brilhantismo da autora na escolha do título da obra que, obviamente, refere-se mais à dificuldade de enquadramento social de Júnior, que ao seu “cabelo ruim”. O cabelo é a grande metáfora. A constante luta de Júnior para alisar os fios rebeldes apenas ilustram sua peleja maior, da qual ele nem mesmo se dá conta, que é a batalha por ser aceito, antes de tudo, por sua própria mãe, que representa um mundo de estamentos cultural e arbitrariamente impostos às liberdades sociais (e sexuais).

Há textos sobre esse filme sugerindo que a “disfunção” social de Júnior é por ele percebida, e que ele tenta se adequar a um padrão de beleza “branco”, algo de que esta crítica discorda. O garoto é um ser espontâneo e possui aquela pequena parcela de inocência típica da infância. Ele simplesmente é novo demais (não foi suficientemente socializado) para entender os motivos pelos quais a sua mãe não o aceita. Ainda não sabe que sua vida será mais fácil se ele puder se adequar a certos padrões e modelos sociais.

Ou seja, as grandes e profundas questões que o filme aborda, ocorrem à revelia da consciência de Júnior, o que enriquece ainda mais o roteiro, pois nos mostra que, nos processos de socialização, somos nós, os adultos, que inculcamos e propagamos regras e preconceitos em instâncias primárias que, para uma criança de tenra idade, são apenas seu modo de estar no mundo.

Nota: 4/5

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Diretor: Mariana Rondón
Duração: 93 minutos
Elenco: Samuel Lange, Samantha Castillo, Nelly Ramos
Lançamento: 17 de abril de 2014.

Autor: Daniel Robledo

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Gustavo Martins
Gustavo Martins
9 anos atrás

Só uma coisa que achei estranha. O conceito ‘homossexualismo’ está errado, porque o ‘ismo’ vem como doença, o que não é. É a forma que usavam antigamente… o correto é homossexualidade ou relação homoafetiva.

Paula Romano
Paula Romano
9 anos atrás

Corrigido! 🙂