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Paradox: música, ativismo e o legado de Neil Young

Se você espera vingança, violência e duelos entre temidos cowboys no novo western da Netflix, esqueça – Paradox é quase uma viagem psicodélica sobre ativismo e indústria da música.

Nem um tiro, nem uma gota de sangue. Ao contrário, o longa trata de maneira metafórica sobre como grandes corporações detêm riquezas e monopólio de produção, e como a música ainda é a melhor maneira de resistência, para conectar pessoas e lutar pelo bem comum.

Escrito e dirigido pela atriz Daryl Hannah, o filme musical é ambientado em um mundo distópico no qual garimpeiros buscam entre destroços por velhas tecnologias que servirão de troca para alimentos cultivados por mulheres – retratadas ali como símbolos da fertilidade.

O músico Neil Young interpreta o misterioso “Homem do Chapéu Preto”, que faz parte desse grupo formado também por Willie Nelson e seus filhos Lukas e Micah Nelson, integrantes da banda Promise of the Real.

Young é um cowboy temido que saqueia frequentemente o banco “Seed Bank”, que retém todas as sementes de cultivo, essenciais para a subsistência dos moradores da região.

O grupo realiza shows como atos de manifestação hippie, onde distribuem esses sacos de “sementes da vida” para o público e transmitem mensagens de resistência e conscientização.

A crítica abordada na trama é uma extensão do legado ativista de Young presente em suas composições.

O álbum “The Monsanto Years“, de 2015, gravado em conjunto com Promise of The Real, contesta diretamente a Monsanto, empresa multinacional de agricultura e líder mundial na produção de agrotóxicos e herbicidas, além de ser a maior produtora de sementes geneticamente modificadas.

Fica evidente que, no filme, o”Seed Bank” é uma alusão a empresa.

A indústria da música também é assunto polêmico abordado no longa.

“Acho que estamos no meio de uma crise incrível para as artes e para a música em particular. As sementes representam isso como uma boa metáfora”, diz Young.

O cantor acredita que, hoje, assim como as sementes, a música não é pura. Ele diz que atualmente não encontramos mais canções em seu estado original. Tudo vem modificado através de programas de edições e se torna muito artificial.

Em entrevista ao The Star, ele disse:

“Não gostamos de sementes (geneticamente modificadas), gostamos de sementes puras e não gostamos de música transgênica, gostamos de música pura. E todas as músicas que são lançadas hoje foram modificadas – elas são totalmente adulteradas e danificadas. Você obtém cerca de 5% de uma cópia digital do que a música era.

Então, 99% das pessoas, ou talvez quase 100% das pessoas no planeta – é isso que ouvem, e por causa das gravadoras e dos gigantes da tecnologia. Ambos foram irresponsáveis com a arte de gravar músicas”

Em dezembro de 2017, o cantor inaugurou o NeilYoungArchives.com, um site que reúne todos os álbuns, singles, livros e filmes da sua carreira para livre acesso, e com a proposta de “áudio de qualidade superior”.

Paradox foi o primeiro longa dirigido e escrito pela atriz Daryl Hannah (Kill Bill), que explorou um conceito experimental na narrativa com filmagens que parecem ter saído de vídeos caseiros.

“Eles são todos muito apaixonados por essas questões e práticas agrícolas naturais, e sobre a importância de proteger as próprias fundações das quais dependemos, que toda vida depende. Como também em manter a integridade das sementes, diversidade e da água”, ela diz.

Paradox é um filme poético e delicado que transmite uma mensagem importante de conscientização sobre causas ambientais, sociais e políticas – das quais todos fazemos parte. De como a música ainda é uma das manifestações culturais mais importantes para a sociedade, assim como uma ferramenta eficaz de transformação.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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