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Cumbe: HQ sobre resistência negra recebeu o Oscar dos quadrinhos

A HQ Cumbe, do paulistano Marcelo D’Salete, que retrata a resistência negra durante a escravidão no Brasil, recebeu o prêmio Eisner na premiação considerada o Oscar dos quadrinhos, na San Diego Comic-Con.

Publicada originalmente em 2014 pela editora Veneta, a graphic novel ganhou neste ano uma edição americana sob o título Run for It: Stories of Slaves Who Fought for Their Freedom, pela editora Fantagraphics, e foi nomeada ao prêmio na categoria de melhor edição americana de material estrangeiro.

Edição americana de Cumbe, vencedora do prêmio Eisner

Baseado em uma profunda pesquisa sobre a cultura banto – originária da região do Congo e de Angola – o quadrinho narra quatro histórias fictícias, mas que retratam fielmente os acontecimentos brutais que enfrentavam os escravos dos engenhos de açúcar no Brasil: uma mucama que engravida do senhor de engenho, um casal que cogita a fuga, uma rebelião em uma vila e a tentativa de fuga de dois irmãos.

“Não são histórias reais, mas são narrativas baseadas na minha pesquisa histórica”, ele diz.

Como explica o autor, ‘Cumbe’ é uma palavra originária do idioma africano quimbundo, que significa sol, força e luz – título poético que reforça a luta do povo negro em busca de liberdade.

D’Salete trabalha há 20 anos como quadrinista, e teve a ideia inical para Cumbe em 2004, quando fez um curso sobre história do Brasil com foco na população negra, no Núcleo de Consciência Negra da USP.

“A partir desses estudos, fui montando um mosaico sobre essas relações tão complexas que marcaram o Brasil colonial”, explica.

Mais que relembrar o longo período histórico da escravidão, que ainda perpetua suas nuances no país, D’Salete também apresenta um enredo com perspectiva dos escravos, para assim desconstruir imagem do negro como subalterno, resignado e sem voz.

“O que nossa história nos diz é que narrativas negras não têm valor. Vemos isso até hoje nos filmes, nos livros, na televisão. Acho que um trabalho como minhas HQs, que coloca na boca do povo negro sua própria história, é uma forma de humanizar esses grupos, informando-os e transformando-os em pessoas que podem lutar pelos seus direitos”, ele completa.

Cumbe já ganhou edições traduzidas na França, Itália e Áustria, mas o autor tem o sonho de que a HQ viaje até Angola, Congo e regiões da África onde foram sequestradas as pessoas escravizadas durante o período colonial.
D’Salete é mestre em História da Arte pela USP e autor das HQs que lançam luz sobre temas sociais: Noite Luz (2008), Encruzilhada (2011) e Angola Janga (2017).

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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