Cinema

Relic | Crítica: filme transforma elementos naturais da vida em terror

O filme Relic é uma daquelas joias escondidas do horror, que passa despercebido. Seja por ter pouco orçamento para o marketing, então aparece pouco, seja por ter um clima meio “cult”, por ser de um gênero que reacende os filmes de horror psicológico dos anos 60, como “O Bebê de Rosemary”.

De fato, alguns outros filmes seguem essa mesma linha, os quais podemos citar “A Bruxa”, “Hereditário” e “Hagazussa” – apesar deste último ser bem mais complexo.

Sem mais delongas, vamos falar brevemente um pouco sobre como alguns elementos da nossa vida criam e se personificam nesta obra de horror que nos cativou bastante, e que é o filme de estreia de uma mulher: Natalie Erika James.

A partir daqui,o texto pode conter spoilers.

O filme Relic, uma história sobre o envelhecimento e morte

Logo de início, o filme dá algumas dicas de que o terror presente ali não se trata de um filme gore. Aqueles de assassinatos. Mas sim algo mais psicológico. Com ambientes sombrios, uma casa, e a presença de três mulheres da mesma família.

Discorre sobre diversos aspectos do envelhecimento. Cita familiares, mostra fotos, lembranças, e tem como ambientação a casa de uma matriarca – que fica “cada vez maior” aos olhos da idosa que mora lá.

Basicamente, gira em torno de três personagens: uma idosa, uma adulta e uma jovem. E os diálogos e acontecimentos entre elas revela aos poucos sobre o quê o filme se trata: o ciclo da vida. O fato de nascer, crescer, se desenvolver e depois perecer.

Como a garota mais jovem diz em certo ponto: “as mães trocam nossas fraldas e, no futuro, trocaremos as delas. Não é assim que funciona?”.

No entanto, estes aspectos da vida são entregues a nós em forma de alegorias e metáforas.

Demência e Alzheimer

A doença mental é tema recorrente aqui, especialmente porque a narrativa principal gira em torno de uma idosa que mora sozinha em casa, e sua filha e neta a visitam depois que ocorrem alguns eventos estranhos com a mulher.

Recorrentemente as personagens citam que a idosa não está muito bem. Que tem problemas em lembrar coisas, e seu comportamento já não é mais o mesmo. Isso basicamente faz referência direta ao envelhecimento da mente, como a demência e o Alzheimer.

A filha da idosa chega a procurar um asilo para ela morar, enquanto a neta se propõe a morar com a velha. No entanto, as coisas ficam um pouco assustadoras quando o comportamento dela começa a mudar bastante, e ela começa a se transformar em “outra coisa”.

No filme, a velhice é tratada como metáfora para transformar a idosa em outro ser. Uma espécie de criatura, que nos dá medo. A qual parece que vai machucar. Mas na verdade, é ela quem está “machucada”. É ela que busca nada menos do que atenção, cuidado, amor.

A sequência final revela como podemos enxergar a velhice como algo assustador. Mas que na verdade significa apenas o ciclo da vida, um elemento natural que toda a humanidade passa.

A partir daí, entendemos também que a presença escura que perambulava pela casa, desde o início, era o “ser” que representa o pai da idosa. Avô e bisavô respectivamente das outras personagens.

A descendência e o sagrado

Para concluir, o filme Relic trata da descendência familiar, como se fosse algo hereditário em todos nós. Todos vamos nascer, crescer, envelhecer e morrer. Com a diferença que aqui, temos a metáfora de que quando nos tornarmos velhos, nos transformaremos em outra coisa. E é aí que entra o nome do filme. Todos somos relíquias.

“Relíquia” significa, em um sentido religioso, designar objetos ou restos mortais para fins sagrados. Deriva do latim “reliquiae” que, além de “restos”, também significa “deixar para trás ou abandonar”. E isso basicamente é um resumo de tudo o que filme quer passar.

Quando a idosa se transforma em uma “criatura”, na verdade ela nada mais é do que uma relíquia. Um ser sagrado que se tornou uma espécie de múmia. E que propositalmente traz a aparência de uma múmia – já que a mumificação consiste em transformar uma pessoa em relíquia. Torná-la sagrada.

Assim, as três personagens deitam na cama, já sem medo, e com a ciência de que aquilo nada mais é do que um ciclo. A velha, transformada em múmia, a mãe no meio, e a filha, por fim, reparando que a mãe já dá sinais de sua transformação. O ciclo da vida.

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Flávio Croffi

Jornalista há mais de 18 anos e fundador do NERDIZMO. Foi editor do GamesBrasil, TechGuru, BABOO e já forneceu conteúdo para os principoais portais do Brasil, como o UOL, GLOBO, MSN, TERRA, iG e R7. Também foi repórter das revistas MOVIE, EGW e Nintendo World.

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