Você há de concordar comigo que nunca fomos tão coagidos a sermos felizes como nos tempos atuais. Veículos de massa e mídias sociais nos induzem discursos a todo momento; “compre”, “esteja na moda”, “se encaixe nos padrões”, “largue tudo e viaje o mundo”, “frequente os lugares badalados”, “case e tenha filhos”, e uma infinidade – algo que vemos no filme “They Live” de John Carpenter, mas ainda com uma frequente cobrança de busca desenfreada pela felicidade.

Isso, no entanto, nos torna cada vez mais doentes, ansiosos, egoístas, competitivos, insatisfeitos e, eventualmente, mais infelizes.

O que ninguém te conta é que a felicidade é completamente subjetiva. É perfeitamente possível caminhar contra a corrente e levar uma vida fora dos padrões pré-fabricados e estar satisfeito. 

Entretanto, uma fórmula para atingi-la nos foi imposta: trabalhe, consuma, produza, trabalhe, reproduza, consuma, trabalhe… e assim por diante.

Somos ratos em busca de felicidade

A animação “Happiness” do ilustrador Steve Cutts, representa nossa busca constante pela felicidade com ratos antropomorfizados, para enfatizar que o consumismo não pode compra-la e, quando entramos neste ciclo, giramos a roda do capitalismo que favorece apenas os mais ricos, e nos tornamos gradualmente aprisionados. 

Me lembrou um trecho do livro Nós, um romance distópico escrito pelo russo  Yevgeny Zamyatin em 1921, mas completamente atual. Nele, Zamyatin retrata uma sociedade padronizada na qual todos os humanos perderam suas identidades e seus nomes passaram a ser números, têm horários definidos para trabalho e descanso. Perderam a privacidade e vivem apenas a favor do “Benfeitor”, regente supremo da nação.

“Mas a Tábua das Rodas converteu cada um de nós em verdadeiros heróis de seis rodas de aço, heróis do grande poema. Todas as manhãs, com exatamente seis rodas, precisamente, na mesma hora, precisamente no mesmo minuto, nós, os milhões, levantamos como um só. Exatamente na mesma hora, unimilhões começamos a trabalhar e, na mesma hora, unimilhões terminamos o trabalho. E fundidos num único corpo com milhões de mãos, exatamente na mesma hora determinada pela Tábua, no mesmo segundo, levamos a colher à boca e, no mesmo segundo, saímos para passear, vamos no auditório, ao ginásio de exercícios de Taylor, adormecemos…

Serei totalmente sincero: ainda não encontramos uma solução absolutamente exata para a felicidade – duas vezes por dia, das 16 às 17 horas e das 21 às 22, nosso poderoso e único organismo se divide em células isoladas: essas são as Horas Pessoais estabelecidas pela Tábua das Horas”.

Estas críticas sociais são recorrentes nos trabalhos de Cutts, que podem ser vistas ainda no novo clipe “In This Cold Place”, do Moby.

Raquel Rapini

Jornalista movida pela curiosidade de saber mais sobre qualquer assunto. Escreve sobre arte, cultura, games e assuntos gerais relacionados às ciências, sociedade e mundo geek.

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