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O racismo em HP Lovecraft

Hoje em dia não é segredo para ninguém (ao menos quem procura e interpreta as obras do autor) que existe racismo em HP Lovecraft. E a xenofobia foi retratada em suas obras, nem sempre de forma branda ou nas entrelinhas. Há contos que deixam isso bem explícito e claro.

Exemplo dessas histórias estão “Caso de Charles Dexter Ward”, “A Sombra de Innsmouth”, “The Street” e “The Horror at Red Hook”. Em “O Horror em Red Hook”, por exemplo, o personagem Thomas F. Malone, um detetive, sai às ruas e observa as pessoas negras e imigrantes com variadas formas de horror.

Sonia Greene, que foi casada com Lovecraft, também já relatou a visão do autor em relação ao assunto dizendo:

“Sempre que andávamos em meio à multidão e nos deparávamos com pessoas das mais diferentes raças [etnias], uma característica comum de Nova York, ele ficava lívido de raiva e quase perdia a cabeça”

Não para por aí. Existe um poema dele, chamado de “On The Creation of Niggers”, em que expressa, de forma bem clara e nojenta, sua visão em relação aos afro-americanos e descendentes.

Leia e tire suas próprias conclusões:

Sobre a Criação dos Negros

Quando, há muito tempo atrás, os deuses criaram a terra

À imagem de Júpiter, o homem foi moldado,

As bestas foram criadas para tarefas menores;

Ainda assim elas estavam muito distantes da raça humana.

Para preencher esse vazio e juntar o resto ao homem,

Os anfitriões do Olimpo elaboraram um plano astuto.

Uma besta seria forjada, em uma figura semi-humana,

Preenchendo assim o vazio, e chamando a coisa de Negro.

Não é preciso ter um nível alto de interpretação para notar que Lovecraft descreve negros como seres que ocupam um espaço vazio entre seres humanos e animais. Ou seja, aparentemente ele os classifica como animais, e faz uma clara alusão à escravidão.

Não é à toa que Alan Moore e Jacen Burrows, na HQ Neonomicon, retrata o próprio Lovecraft como um dos personagens (o detetive Sax), com um símbolo nazista tatuado na testa — algo semelhante ao Charles Manson. Sem falar em citações de como o autor era conservador, estranho e racista.

Se você ainda tem dúvidas da visão racista do autor, veja este artigo (em inglês) que cita e discorre sobre sete casos em que Lovecraft publicou passagens xenofóbicas em seus contos.

Tem até uma edição lançada no Brasil de um livro, Contos H. P. Lovecraft – Volume 1, traduzida por Lenita Esteves, que traz um episódio ridículo e absurdo de alteração da obra original do autor, para que fique mais politicamente correto. Algo chamado de “ética do amortecimento”.

Uma clara tentativa de abrandar os ideais nazistas e preconceituosos do autor, é claro. No entanto, isto é algo muito sério, pois trata-se de adulteração da obra original – e faz com que os leitores brasileiros não tenham plena ciência do que Lovecraft quis dizer em suas obras.

Há estudiosos e quem defenda o autor, dizendo que na época, todo mundo era assim. Fato, a maioria das pessoas pensavam desta forma. Mesmo assim, é algo certamente decepcionante imaginarmos que um autor tão querido defendesse tantos ideais retrógrados e não humanitários.

Isso, no entanto, não traz impactos relevantes nas obras do autor em si. Os contos continuam interessantes, misteriosos e cheios de elementos de terror cósmico – a assinatura de Lovecraft.

Mas é sempre bom saber o que estamos lendo. Afinal, a melhor forma de absorver um livro, um conto ou uma história, é tendo uma interpretação maximizada sobre o texto.

Referências:

David Arioch | Nerd Maldito | The Genetics of Horror: Sex and Racism in H. P. Lovecraft’s Fiction, Bruce Lord. | The Racial World – View of H.P. Lovecraft, No. 2, by A. Trumbo, 2002.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

Categorias:
Livros e HQ
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