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Quem foi Don Shirley, o pianista de Green Book

Fatos sobre Don Shirley, o pianista consagrado que buscou romper barreiras raciais em um Estados Unidos segregado

Nascido em janeiro de 1927, Donald Walbridge Shirley, também conhecido como Don Shirley, como retratado no filme Green Book, foi um pianista consagrado que buscou romper barreiras raciais em um Estados Unidos segregado.

Filho de pais jamaicanos imigrantes, Shirley nasceu em Pensacola, Florida, e tocou suas primeiras notas no piano aos dois anos de idade. Quando criança, acompanhava seu pai, um sacerdote episcopal, ao órgão da igreja.

Após a morte de sua mãe, aos 9 anos de idade foi estudar com Mittolovski no conservatório de Leningrado.

Aos 18 começou a tocar piano profissionalmente, e estreou com a Orquestra Pops de Boston, interpretando No. 1 de Tchaikovsky. No ano seguinte interpretou sua primeira composição original com a Orquestra Filarmônica de Londres.

Shirley desejava se tornar músico clássico, mas foi proibido pelo produtor Sol Hurok, que o aconselhou a seguir carreira tocando “música negra”, porque jamais um auditório nos EUA aceitaria um homem negro tocando Chopin, seu músico favorito.

Apesar de tocar como solista em sinfonias de Chicago, Cleveland e Detroit, ele acabou seguindo os conselhos de Hurok, e mesclou música clássica, jazz e outros elementos da música pop para criar seu próprio gênero.

Suas apresentações eram longe dos auditórios que almejava, e se concentravam apenas em casas noturnas, que ele realmente não gostava muito.

Uma das falas do músico, interpretado por Mahershala Ali no filme, foi retirada de uma entrevista onde ele revela seu tom crítico sobre os jazzistas.

“Eles fumam enquanto tocam, colocam o copo de whisky em cima do piano, depois ficam bravos quando não são respeitados como Arthur Rubinstein. Você não vê Arthur Rubinstein fumando e apoiando seu copo sobre o piano…”, ele disse em entrevista para o New York Times, em 1982.

Após ter seu sonho podado pelo racismo, em 1962 ele saiu em turnê pelo Sul dos EUA para tocar em teatros e salas de visitas só para brancos, acompanhado de seu motorista Tony Lip, como retrata Green Book.

Lip também trabalhava como seu guarda costa, pois sua segurança era sempre a maior preocupação. Visto que seis anos antes, em 1956, Nat King Cole foi brutalmente agredido enquanto se apresentava para um público branco em Birmingham, Alabama.

Shirley viveu mais de 50 anos em uma unidade de artistas acima do Carnegie Hall. Ele tocava nos palcos do Carnegie uma vez por ano com seu trio.

Era um homem culto, elegante e refinado, que dominava oito idiomas e tinha doutorado em música, psicologia e arte.

Nunca se referia a si mesmo como artista ou intérprete de jazz, mas sim como músico. Um pianista extraordinário, certa vez elogiado sem pudor pelo maestro russo Igor Stravinsky: “Seu virtuosismo é digno dos deuses”.

“A experiência negra através da música com dignidade. Isto é tudo o que tratei de fazer”, Shirley disse ao The New York Times.

O resultado de sua maestria pode ser visto em Water Boy (1961), um grande sucesso que uniu Chopin à música dos anos sessenta e improvisos.

Quando se tornou uma celebridade, Shirley seguiu finalmente sua paixão como intérprete de música clássica. Chegou a gravar um concerto de Rachmaninoff com a Orquestra Filarmônica de Nova York, mas nenhuma gravadora quis lança-lo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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