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Quando estamos? DARK e os paradoxos do tempo

Dark é a primeira série alemã da Netflix, criada por Baran bo Odar e Jantje Friese, que nos prende em um labirinto onde o terror, a física, filosofia e imaginação pairam sobre nossas mentes.

Com 10 episódios e ambientada no interior da região de Palatinado, no sudoeste da Alemanha, traz o tema que já estamos acostumados: desaparecimentos.

Entretanto, Dark se diferencia de outras produções com a mesma temática porque interpreta teorias que ainda fascinam a humanidade: o princípio de causa e efeito, a cabala, o buraco de minhoca de Albert Einstein e Nathan Rosen e a possibilidade de viagem no espaço-tempo.

A história se passa em 2019, ano em que um garoto desaparece e quatro famílias se unem em busca de respostas. Descobre-se em algum momento a relação entre o desaparecimento de uma outra criança que ocorreu em 1986, o qual nunca foi resolvido. Curiosamente, ambos os casos aconteceram em uma floresta próxima à uma usina nuclear.

Esta busca traz à tona segredos do passado, constelações familiares, traições e conflitos recorrentes das relações humanas.

É preciso assisti-la com atenção para acompanhar a linha do tempo que viaja entre passado, presente e futuro, e sobretudo, sua essência. O enredo, diálogos bem construídos e personagens complexos fazem de cada capítulo 50 minutos de boas reflexões.

“Acreditamos que o tempo decorre de forma linear. Que ele avança uniformemente, para sempre. Até o infinito. Mas a diferença entre passado, presente e futuro não passa de uma ilusão. O ontem, o hoje e o amanhã não são consecutivos, mas estão conectados em um círculo infinito. Tudo está conectado”.

Com a frase acima começamos o primeiro episódio. Uma de tantas outras marteladas na cabeça que estão por vir ao longo da série.

Diante de tantas dúvidas, cenários soturnos e trilha sonora sinistra, somos inseridos em constante tensão, a mesma que paira sobre o pacato vilarejo no qual todos estão conectados.

Conexão que resgata O Eterno Retorno do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, conceito descrito por ele próprio como seu pensamento mais aterrorizante.

Nele, Nietzsche diz que os polos se alternam nas vivências em uma eterna repetição; criação e destruição, alegria e tristeza, saúde e doença, bem e mal: tudo vai e tudo retorna. São variações de sentidos já vividos, faces de uma mesma realidade – um complementa o outro.

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!“ Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: “Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?” (aforismo 56)

Sempre questionamos nossas origens e criação: De onde viemos? Para onde vamos? Seríamos nós apenas fruto do acaso? A pergunta correta não seria onde estamos mas, sim, quando estamos?

“Se pudéssemos ver o ontem e o amanhã simultaneamente, a origem e o fim, o universo inteiro em apenas um só momento, finalmente encontraríamos respostas para a principal pergunta: o que é o ser humano?”

Enquanto caminhamos através das incertezas, precisamos de pessoas como Baran bo Odar, que reacendem nossa inquietude por respostas e alimentam nossa imaginação sobre o que nos move.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Fábio Barbosa de Araújo
Fábio Barbosa de Araújo
6 anos atrás

Essa série é sensacional!