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Um Senhor Estagiário | Crítica: perigoso

Filme falha ao esquecer a comédia e apresentar o feminismo de forma equivocada.

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O feminismo é cada vez mais presente na cultura pop. É odiado por uns, abraçado por outros, com #Gamergate e #HeForShe aí para provar. E é nesse embalo que Um Senhor Estagiário se cria, mas não consegue ir longe na discussão.

O filme conta a história de Ben Whittaker (Robert De Niro), um senhor de 70 anos que, cansado de não ter um objetivo e uma rotina que o desafie, resolve entrar em um programa de estágio para idosos na companhia de e-commerce da jovem empreendedora Jules Ostin (Anne Hathaway), onde acaba virando o assistente pessoal dela.

A partir daí o filme desenvolve a relação entre os dois personagens, trazendo até um pouco da lembrança de O Diabo Veste Prada no seu início, com Hathaway virando Meryl Streep, embora seja mais leve e logo a extravagância da sua personagem se torne mais leve e até relacionável.

Com a pegada de comédia, o filme funciona razoavelmente bem durante os dois primeiros atos, com a relação dos personagens sendo levada pela boa química entre o elenco. De Niro e Hathaway estão ótimos, inclusive no timing, assim como Adam DeVine e a pequena JoJo Kushner. Além disso, a trama de Jules começa funcionando bem, mostrando as dificuldades que a jovem enfrenta ao ter que cuidar de um grande empreendimento sozinha, com medo que, ao deixar outra pessoa no cargo máximo, a sua marca perca a identidade. Além disso, há todo o discurso de empoderamento feminino neste momento. Por que ela não pode ser a empreendedora, enquanto o marido fica cuidando da filha? Por que outras pessoas olham torto para ela, diminuindo-a ou não escutando-a como se soubesse do que está falando ou o que está fazendo?

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Infelizmente, é até aí que Um Senhor Estagiário funciona. Ao entrar no terceiro ato, Jules se perde, e cabe então aos homens o papel de colocá-la na direção correta novamente (há até um “eu odeio ser o mais feminista nesta discussão”). Isso tudo após uma hora de filme em que a personagem se mostra dona de seu destino. Além disso, cabe ao personagem de De Niro mostrar a algumas mulheres que elas estão sendo machistas. O final é coroado com problemas no relacionamento de Jules, sofrendo com sua falta de tempo, e a personagem decidindo focar no seu amor pelo marido e na possibilidade de sua relação voltar ao normal, ao invés de a si mesma (inclusive com medo de “morrer e ser enterrada sozinha, na ala dos solteiros”).

Ao que parece, em sua ânsia por passar alguns ideais feministas para os homens (algo necessário, de fato), o roteiro decidiu que seria mais fácil e simples colocá-los como protagonistas nessa história, e não, como deveriam ser, as mulheres. Não foi nem uma luta lado a lado, foi uma inversão mesmo. É a típica situação para que nos sintamos mais valorosos e importantes, quando não somos o real foco.

Um Senhor Estagiário tem seus bons momentos (especialmente cômicos), mas o final deixa um gosto amargo, mesmo após as risadas. A história depende totalmente dos atores, e termina de uma forma com mais potencial de desinformar do que ajudar de fato. Uma pena, pois ali tinha um potencial interessante, e os envolvidos mereciam um final (que é fraquíssimo) mais digno.

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um-senhor-estagiário-reviewUm Senhor Estagiário

Diretor: Nancy Meyers

Roteiro: Nancy Meyers

Duração: 121 minutos

Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Adam DeVine

Lançamento: 24 de Setembro de 2015

Autor: Guilherme Souza

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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