O Inventor de Jogos - Crítica - Nerdizmo
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O Inventor de Jogos – Crítica

Filme foge dos padrões da Disney e apresenta algumas surpresas

O Inventor de Jogos - CríticaO Inventor de Jogos (The Games Maker), com direção do argentino Juan Pablo Buscarini, é uma obra da Disney bastante curiosa. Curiosa no sentido em que é um filme bastante sombrio para os padrões da companhia. A edição e a fotografia chegam a lembrar obras de Tim Burton em alguns momentos (em especial, Alice no país das Maravilhas, lançado em 2010 pela própria Disney).

Facilita no entendimento se analisarmos a questão de forma mais ampla: o estúdio já produziu obras de conteúdo infanto-juvenil bastante sinistras e sombrias. É o caso do excelente O Buraco Negro (que conquistou a primeira classificação de censura na história da Disney) e Tron, lançados praticamente na sequência um do outro: 1979 e 1982, respectivamente.

Esses filmes, entretanto, não foram sucessos de bilheteria. Tron se tornou um clássico cult no home vídeo, e precisou de décadas para que as suas inovações tivessem o devido reconhecimento e atraissem fãs (o que levou a uma sequência quase 30 anos depois).

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Devido aos fracassos com esses dois filmes que, além de tudo, tiveram custos muito elevados para a época, foram raras as incursões da Disney em obras mais densas nas últimas décadas. O inventor de Jogos é certamente uma dessas tentativas, porém muito mais modesta.

É preciso dizer que não foi desta vez que acertaram. O filme, rodado na Argentina, é bem produzido e baseado em uma obra respeitada: El Inventor de Juegos, do escritor Pablo De Santis. A fotografia também é incrível, pois não é qualquer um que pode ser comparado a Tim Burton nesse quesito (especialmente em uma obra de baixo custo para os padrões da indústria: US$ 6 milhões).

O filme conta a história do pequeno Ivan Drago (personagem que tem o mesmo nome do antagonista de Rocky IV, interpretado por Dolph Lundgren, mas este Drago, do filme da Disney, é interpretado por David Mazouz). Ivan Drago é um garoto muito inteligente que vence uma competição para inventores de jogos. A partir desse prêmio, uma série de mistérios sobre o passado de sua família começa a vir à tona (no melhor estilo Harry Potter), e cabe ao próprio garoto desvendá-los, para salvar a si e à sua família.

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A premissa é bacana, mas também é aqui começam os problemas. O primeiro deles é o próprio ator mirim. Mazouz tem pouco carisma, e a personalidade de Ivan Drago muda o tempo todo durante o filme. Não é nada que se justifique pela trama, ficando claro que é um problema de atuação ou de direção (ou ambos). Ele também não é muito heróico, na medida é em que é muito ajudado e super protegido pelos coadjuvantes. Essas falhas fazem com que seja muito difícil, para o espectador, fazer algo muito necessário em praticamente qualquer filme: torcer pelo herói.

O segundo e, provavelmente, maior problema da obra, não chega a ser da produção, mas do material em que ela se baseia. O Inventor de Jogos é um filme destinado ao público infanto-juvenil, mas o interesse das crianças e adolescentes por jogos de tabuleiro está em queda livre. De cara, temos um problema de falta de identificação entre o tema e o público que se quer atingir.

Não à toa o filme é ambientado em uma época que se assemelha aos anos 60. Isso ajuda, mas não resolve, já que ele foi feito para as crianças de hoje, que vão ter muita dificuldade para se identificar com algum dos elementos apresentados. A intenção é ótima, mas, infelizmente, não funciona. Se você for com seu filho pequeno, garanto que vai se divertir mais do que ele.

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O terceiro ponto é controverso. O vilão da trama, Morodian, interpretado por Joseph Fiennes (Elizabeth, 1998) é, também, bastante inconstante. Fiennes é um grande ator, mas parece estar no piloto automático. Parece que pegou só mais um trabalho para fechar as contas do mês. Seu personagem tem bons momentos, em alguns deles o espectador chega quase a torcer por ele, porém, na maior parte do tempo, é apenas mais um vilão caricato, a começar pela própria indumentária e pela obsessão monotemática.

O filme também abusa da narração em off para explicar a trama, o que é bizarramente didático e subestima a inteligência do espectador, além de tentar suprimir outro problema do roteiro: o excesso. Muitas tramas, subtramas, coadjuvantes, cenários e prequels. Fica nítido que o material seria muito melhor aproveitado em uma franquia, mas é condensado em um único filme. Se o estúdio não confiava que o material que tinha em mãos era rico o suficiente para gerar uma sequência, por que fez o filme?

Podemos dizer que a obra é uma tentativa válida do estúdio em variar seu portfólio e testar novos formatos, mas a execução e o roteiro são muito falhos. Além disso, neste caso, o problema já começa na obra adaptada, que realmente não dialoga com nossa geração de crianças impacientes e hiper conectadas. Em todo caso, vale a ida ao cinema para ver um filme da Disney sem cara de Disney. Só fica a dúvida: levar ou não os filhos?

Nota: 2/5

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O Inventor de Jogos

Diretor: Juan Pablo Buscarini
Duração: 111 minutos.
Elenco: David Mazouz, Tom Cavanagh, Valentina Lodovini, Edward Asner, Joseph Fiennes, Megan Charpentier
Lançamento: 09 de outubro de 2014.

Autor: Daniel Robledo

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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