Quando escrevi as primeiras impressões de Mr Robot, não imaginava que a série pudesse chegar ao seu final de temporada da maneira como terminou. A série cresceu de uma forma absurda através dos episódios. Não tenha dúvidas, é uma das grandes séries deste ano.

Mas vamos do começo. Não detalharei muito a premissa da série, pois tudo isso está no texto linkado ali em cima, então sobrará espaço para falar os caminhos tomados pela série após sua apresentação. E já podemos começar com a breve ideia de que ela seria algo próxima de um “caso semanal”, com uma pessoa ou entidade sendo hackeada a cada episódio. Séries boas destoam dessas ideias limitantes, contando uma história mais profunda ao longo de sua temporada, e é isso que ocorre com Mr Robot. Após iniciar a trama de um ataque ciberterrorista na empresa Evil Corp, a série segue com ela até o fim, trazendo pouquíssimas histórias paralelas, que são ótimas e servem para nos dar o panorama geral das consequências da ação de Elliot, e, mais do que isso, da grandiosidade da Evil Corp e de seu alcance na vida das pessoas.

Elliot e os Transtornos

Elliot Alderson é um personagem muito bem construído. Ele carrega uma característica importante para manter o alto nível da série e o interesse do público: o mistério. Um personagem perturbado, cheio de problemas, vícios e defeitos, que não fala muito e surpreende sempre que faz isso. Não a toa, quando há o grande plot twist da temporada, somos todos surpreendidos, pegos sem uma única barreira de defesa para aquilo. É difícil não fazer uma relação com um certo filme que usou do mesmo artifício, mas Mr Robot conseguiu seguir um caminho original, mesmo usando essa ferramenta, e isso sem perder o sentido da história. 

Além disso, há toda a questão da 4ª parede que a série traz. Ela foi quebrada ou não? Nós somos vozes na cabeça de Elliot, ou ele está apenas falando com uma outra pessoa lá dentro? Nós fazemos parte de sua doença? A maneira como a série aborda essas possibilidades ao longo da temporada vai ficando cada vez mais profunda e interessante, e, sinceramente, é difícil ter uma resposta única. Assim como a trama, os discursos e as decisões, essa é mais uma questão que a série deixa em aberto para que nós decidamos no que queremos acreditar.

O Zeitgeist

Zeitgeist é um termo alemão que representa o “espírito da época”. Uma maneira de pensar, de refletir e de criar a cultura. Também se tornou um movimento em busca de uma sociedade livre do domínio de certos aspectos do capitalismo, como bancos, empresas e o próprio dinheiro. Uma sociedade livre.

No final, Mr Robot se aproxima bastante desta ideia. A série apresenta personagens de dois tipos, peões e reis. Enquanto peões dependem de seu emprego, de se dobrar frente ao capitalismo, de se curvarem perante ideias que não consideram dignas, para sobreviver (o arco da personagem Angela Moss reflete exatamente isso), reis comandam tudo, com soberania, possibilidades e uma intangibilidade que os torna algo próximo de deuses (veja o presidente da Evil Corp, por exemplo). Mas, como a máquina capitalista que é o mundo, sempre surgem bugs, e Elliot é um deles. Uma pessoa que saiu do caminho para causar o zeitgeist. Ele, por si só, não tem poder ou voz, por isso a figura da fsociety impera no público, é mais um caso de um símbolo falando mais alto, tal qual o Batman do Nolan ou o Guy Fawkes de V de Vingança. O ápice disso é o discurso do último episódio, uma reflexão que, por mais irreal que pareça, representa a nossa sociedade. No final, não só foi a fotografia de Mr Robot que tornava a série real. A própria história, em certas proporções, é um reflexo do que somos hoje.

Há uma originalidade em Mr Robot que a transformou no sucesso de público e crítica que é hoje. Crua, limpa e sem medo de arriscar, a série conseguiu fechar uma temporada em que acertou tudo, do roteiro ao elenco e direção, sem perder a mão em nenhum momento. O final nos mostrou que o comando das vidas vai muito além das decisões pessoais, em uma teia de linhas, controladas pelos mais diversas entidades, que dificilmente pode ser desfeita. Vamos ver se o futuro de Mr Robot nos entrega um menino, ou uma marionete.

Mr Robot

Criador: Sam Esmail

Roteiro: Sam EsmailKate Erickson

Duração: 60 minutos

Elenco: Rami MalekCarly ChaikinPortia DoubledayMartin WallströmChristian SlaterMichel Gill

Autor: Guilherme Souza

Redação Geekness

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